
Nascido em uma pequena cidade de interior, dizem que quando ele ficou jovem, decidiu ir para São Paulo; porém, nesta época, ainda era matuto e muito ingênuo; não deu muito certo, e ele logo voltou.
Ele tinha a personalidade calma, do tipo que fala pouco e ouve mais; tinha boa feição e estava sempre com um sorriso no rosto. Poucas coisas na vida eram suficientes para agradar o seu dia, como beber um simples gole de café pela manhã ou tomar uma dose de pinga ao final do dia, depois do trabalho.
O João já decidiu trabalhar em oficina logo no início de sua carreira profissional, ele se engraçou com o ramo de lanternagem; viveu nessa labuta praticamente sua vida toda, foi amor à primeira vista; era uma vida boa e agitada ao mesmo tempo. Logo cedo ele acordava e já ia para o trabalho, ficava entafunhado dentro de um galpão velho qualquer em meio aquela atmosfera barulhenta ao som de esmeril e lixadeira; ficava dando martelada o dia inteiro, desamassando e lixando a lataria de carro velho.

Então, ele viveu assim por mais de uma década, até que em algum momento, na década de 80, houve um certo interesse por parte de seus parentes e dele próprio em comprar umas terras para formar um sítio; seria o sonho de seus pais a ser realizado através de uma pequena sociedade em família, entre ele, seu pai e seus irmãos.
A propósito, o sítio ficava muito longe do lugar onde eles estavam morando nesta época, ficava em outro estado brasileiro, a mais de 1000km de distância.
E, foi ao João que eles deram a incumbência de sair primeiro e ir na frente dos outros para comprar o sítio, fazer as primeiras negociações e acertos para se instalarem. Um fato curioso, é que já havia uns conhecidos deles que tinham feito a mesma coisa e tinham dado a notícia de que isto valia a pena, que compensava.
Em um ato de coragem, ele decidiu sair dali com sua família, deixando para trás parte da sua história para começar outra em outro lugar. Ele saiu da cidade de Mundo Novo – MS, com a sua família rumo a Terra Nova do Norte, no norte do Estado do Mato Grosso, em uma veranez velha-reformada. Lembro-me de mim e dos meus outros dois irmãos, todos crianças, se divertindo com aquela aventura; íamos curtindo a viagem ora deitados ora sentados em um colchão de casal, cuidadosamente arranjado sobre o banco de trás da veranez.

Enfim, viajamos nós três, o pai, a Marlene, nossa madrasta e a Cristiane, sua filha, que nesta ocasião, ainda era bebê de colo. Sempre calmo e sereno, o João sempre causava boa impressão na companheira, que emocionada sentia uma sensação especial – o gostinho bom de viajar! – ela estava sempre com um sorriso no rosto.
Nossa alegria e carisma guiavam nossas mentes por caminhos mais românticos como num sonho de criança. Víamos nosso pai contente ao volante a dirigir e víamos através do parabrisa da veranez um cenário lindo lá fora, que a cada hora mudava e ficava diferente. O sol sempre a brilhar, as fazendinhas de beira de estrada, as vaquinhas, o pé de serra. Tudo isso enchia os nossos olhos.
Estas são lembranças agradáveis que doem no peito e geram muita saudade dessa época boa, uma época nostálgica que não volta mais. Apenas as imagens daquilo que vivemos ficaram. Agora, elas estão presentes em nossas mentes, encravadas em nossos corações; essa é a nossa herança que foi transferida com gestos de amor e bondade.
Nota.
Esta é a parte-02 da sequência de estudo de histórias de curiosidades de personagem real servindo de inspiração para a criação do personagem fictício.
Aqui, o foco é o Caçador, personagem principal do livro: O Caçador De Maraguás.
A parte-01 desta sequência é o texto: Protagonista de O Caçador De Maraguás, também publicado neste blog.