Quando nós chegamos no sítio pela primeira vez, algo curioso aconteceu, nós ganhamos um cacho de banana-maçã de um outro sitiante vizinho. O cacho estava amarelinho de maduro; isso foi a alegria da criançada!
Passado pouco tempo, nosso pai arranjou um cenário improvisado. Ele nos colocou em frente a um capinzal e tirou uma foto e registrar o momento.
Eu e meus irmãos estávamos com as nossas cabeças raspadas por causa de piolho ou seria apenas para facilitar o cuidado. Nós rapazinhos, já bem grandinhos, quase homens feitos ficamos ali parados, descalços, de shortinhos coloridos, fazendo umas poses sem-graças em frente da câmera.

A primeira fase da vida no sítio serviu para iniciar o trabalho mais bruto que foi fazer a derrubada da mata para formar a roça. Essa empreitada se deu por um acordo e união de três famílias: a família do vô com a vó, a família do João com a Marlene e nós; e, a família do tio Gil com a tia Sueli. Onde todo mundo ajudava todo mundo, a começar pela construção das casas de cada família que seira instalada ali, na sede do sítio.
As crianças também ajudavam os adultos, do nosso jeito, é claro, conforme a nossa capacidade limitada. Na verdade, tudo isso foi uma festa pra gente, nós sempre nos divertíamos conforme trabalhávamos; nós ficávamos indo de um lado pro outro, carregando tufos de galhos cortados, sempre sorrindo; às vezes, dando gargalhada. Com o rosto e as mãos sujas de carvão; aquilo era um fuzuê pra gente; os adultos gritando para se comunicarem entre si; pois, ao fundo, tinha o som da motoserra derrubando a mata. E, nós ali no meio, correndo e dando risada de nós mesmos por causa das nossa caras sujas. O processo era barulhento e duro. Primeiro, fazia-se a derrubada; depois, a queimada; então, vinha algum outro processo preparação da terra; e, finalmente o plantio.
A terra era boa; tudo que plantava, dava. Plantamos tipos diferentes de cultivo: arroz, feijão, milho, melancia, abacaxi, cana. Isso é só o que eu lembro.

O tempo não durou muito ali na roça; talvez tenha durado no máximo uns três anos. Não sei explicar bem o que aconteceu, pois ainda era muito criança nessa época. Mas, o fato é que nossos pais e tios quiseram ir embora para a cidade novamente e continuar com as profissões antigas de lá da cidade. Pouco a pouco, todo mundo, cada um deles foi deixando o sítio e indo embora pra cidade. Só ficaram, então, o vô e a vó.
Daí, nós vínhamos apenas passear no sítio para visitar o vô e a vó; e, claro, curtir o sítio em alguns finais de semana. Esse período representou uma segunda fase do sítio, um tipo diferente de vislumbre e encanto.
Era também uma época de muita fartura; pois, já se tinha alguns bichos típicos de roça como porco e galinha caipira. Quando a gente vinha, a gente reunia todas as famílias novamente para fazer aquela festança na roça; a gente (eles) fazia bolo de milho, pamonha; às vezes, matava um porco, fritava torresmo no tacho; fazíamos algum tipo de doce ou pão caseiro assado em forno à lenha.
Nós curtíamos muito ir passear no sítio, pois nós sentíamos saudade do riacho de águas transparentes cheio de lambari que havia logo ao lado de nossas casas.
Sentíamos muita alegria ao apreciar o nosso recanto com toda aquela maravilha de natureza; uma meia floresta de mata derrubada, vista só a alguns passos de distância; árvores velhas de pé junto com outras só com alguns tocos de galhos à mostra; poder ouvir o som dos pássaros cantando logo pela manhã, o canto do galo. Foi presente de Deus, viver uma vida tranquila numa época de bonança.
E, o sonho não parou por aí, certa vez, em uma dessas visitas de volta ao sítio, aconteceu algo muito legal para nós, para as crianças. Os adultos programaram um passeio diferente nesse dia. Ele decidiram que iriam visitar um velho conhecido que morava em um outro sítio, um pouco distante dali; mas, que pertencia a mesma região.
Foi um passeio longo que durou o dia inteiro, considerando a ida e a volta; mas, foi divertido. Fomos por uma estradinha simples de chão de terra, beirando os outros sítios da redondeza, contemplando as diferentes paisagens; e, vendo as rocinhas deles, que a cada hora mudava, a cada instante trocava o tipo da plantação.
Até que finalmente chegamos no tal sítio ou fazenda; era grande e bonito. Os adultos se cumprimentaram e reuniram à parte; as crianças, foram brincar de correr pelo quintal enorme da nova fazenda.
Um episódio marcou nossa memória, foi quando nós encontramos ali um grande pé de ciriguela que estava carregado e os frutos maduros. Este dia foi melhor ainda porque nós chupamos ciriguela até ficar enjoados.

Nota.
Esta é a parte-03 da sequência de estudo de histórias de curiosidades de personagem real servindo de inspiração para a criação do personagem fictício.
Aqui, o foco é o Caçador, personagem principal do livro: O Caçador De Maraguás.
As partes 01 e 02 desta sequência são os textos: Protagonista de O Caçador De Maraguás e Formação do Sítio em Terra Nova do Norte.
Textos também publicados neste blog.