
Este era o modelo de oficina de antigamente segundo a descrição do João Maria. Ele narra de forma empolgada suas histórias no livro O Caçador De Maraguás. As oficinas já funcionavam muito bem nesta época; mas, o sistema de trabalho ainda era bastante rudimentar. Trabalhava-se mais para o lado de fora do barracão que para o lado dentro. Os carros eram consertados ao relento sob sol forte, poeira e vento.
Os clientes não criticavam isso, não faziam muitas especulações; mas, eles faziam tumulto em torno das oficinas. Eles costumavam se agrupar ao redor dos trabalhadores – mecânicos e lanterneiros; muitas vezes, para conversar; não seriamente sobre nada; mas, apenas para bater papo enquanto os profissionais trabalhavam.
Carros de diferentes marcas e modelos eram consertados ali, segundo o relato de João Maria; e, segundo o que ele mesmo consertava – na verdade, ele reformava – ele era lanterneiro; enfim, eram: Jipes, Fuscas, os modelos de Corcel-I, Corcel-II. Também tinham as picapes de diferentes modelos, desde aquela de estilo extra forte – por exemplo, a rural – até os diferentes tipos de camionetas ou caminhões que já existiam e eram populares naquela época, a saber: a camioneta e o caminhão Chevrolet, o caminhão Mercedes, o caminhão cargueiro truncadão ou Fenemê, dentre outros.
João Maria, este personagem se empolgou um pouco além da conta ao narrar suas histórias no livro O Caçador De Maraguás. Ele inverteu os papéis dos dois personagens principais, a do Caçador e a dele próprio, João Maria, com relação às suas profissões na vida real e daquelas postas na história de ficção.
O Caçador, personagem principal da história ficcional, exerceu a profissão, como o próprio nome sugere, de caçador. Porém, na vida real, seu nome verdadeiro era: João Batista Maniezzo. Ele serviu de inspiração para a criação daquele personagem. E, a profissão que ele exerceu durante toda a sua vida, foi a de lanterneiro.
Já, o João Maria, também personagem de ficção, na vida real, é conhecido por Gil (abreviação de Gilmar, seu nome verdadeiro). Este nunca trabalhou dentro de uma oficina ou exerceu qualquer destes ramos: de lanterneiro ou de mecânico.
Sua profissão sempre foi ser pedreiro e foi excelente profissional. Ele começou cedo. Com vinte e poucos anos, já era capaz de construir uma boa casa de alvenaria em uma época em que o mais comum de se ver, eram casas de madeira; ele tinha capricho e esmero.
Além de ser o trabalhador que era, o Gil também gostava de curtir a vida. Na sua juventude, ele foi um jovem descolado, típico de sua época. Ele gostava de ir às discotecas nas noites de Sábado. Aliás, esta foi uma época muito boa para frequentar as discotecas. As músicas – todas sucessos nas rádios! – eram agitadas e ritmadas ao estilo anos 70. As pessoas gostavam, os jovens deixavam-se levar pelo embalo e emoção da noite, dançavam todos juntos com passos sincronizados ao mesmo ritmo dentro dos salões.

O Gil fez parte disso, ele tinha estilo e personalidade; era simpático e sabia animar a galera. Em uma dessas ocasiões, ele conheceu a Sueli, que por acaso, era irmã do João.
A família da Sueli era tranquila como a maioria da famílias. Eles tinham bons hábitos, bons costumes; não eram exigentes ou rigorosos demais. Sua família não era nem muito grande e nem muito pequena em números. Era o pai, a mãe, a Sueli, quatro irmãos e uma irmã. Eles eram conhecidos e estimados na vizinhança; assim como, também era a família do Gil.
Por isso, não haveria muitas razões para eles se oporem a ele, caso ele se interessasse aos seus pais para namorar com ela. Bastasse que ele fosse trabalhor e responsável. No momento do encontro com a família dela, ele foi interpelado com algumas perguntas. Ele respondeu todas prontamente. Ele agiu seriamente; mas, também desmonstrou simpatia. Ele causou boa impressão; no geral, os pais da Sueli gostaram dele.
Ele deveria namorar com ela por um ano ou dois, sendo o tempo todo, respeitoso; só depois disso, pedi-la em casamento. Isso seria tarefa fácil, ele estava apaixonado. Ele queria fazer jus a isso tudo: constituir família, zelar pela esposa, pelos filhos.
De fato, ele foi zeloso, proporcionou o bem-cuidar; ele tinha bom gosto, construiu uma casa aconchegante; e, apesar da dura realidade, foi gentil e divertido; sério, apenas nos momentos em que era pra ser. Dessa forma, ele pôde se integrar perfeitamente à nova família, à família da Sueli, a qual o acolheu como um ente querido.
Para sorte do Gil, ele tinha encontrado uma família muito animada, dada à diversão. Pois, assim, como isto era um costume entre a maioria das famílias daquela época, eles também gostavam muito de passar os fins de semana, geralmente os domingos, na beira do rio. Queriam nadar, pescar… enfim, passar momentos de diversão com a família nestes lugares.

Entre as décadas de 70 e 80, eles eram moradores de Mundo Novo, uma pequena cidade do Mato Grosso do Sul, sul do Estado; próximo à região de Guaíra no Paraná, divisa pelo Rio Paraná. Estas regiões eram muito famosas e muito agitadas nesse período; era ali que se via um tumulto de gente todo final de semana, nas famosas prainhas do paranazão.
Com o tempo, tudo isso evoluiu para algo mais ou menos assim: Uma turma grande de pessoas da mesma família se reunia – três ou quatro famílias com pai, mãe, tios e tias; vô e vó; mais a criançada pra fazer festa, para ir banhar no rio.
Na garagem da casa do vô, havia um caminhão velho que ele fazia frete. Eles preferiam assim, juntar todo mundo num carro só; um ou dois adultos iam dentro da cabine com motorista; os demais, ficavam na carroceria do lado de fora, junto com as crianças.
Então, se ia, todo mundo feliz, com brilho nos olhos, as crianças sorrindo, os adultos conversando. A viagem em si, já era pura diversão, o vento batendo nos rostos, o caminhão balançando; as crianças admiravam a estrada.
No meio do trajeto, o caminhão parava e estacionava no acostamento. Isso já era esperado. Daí, todos tinham que descer do caminhão, inclusive o motorista, e entrar no meio do cerrado para catar guaivira, uma fruta típica, nativa do cerrado dessa região.
Depois disso, era só continuar o trajeto, dirigir mais um pouco que já se estaria lá, chegaria ao local almejado – à beira do rio. Um lugar colorido e agitado, vibrante e cheio de gente, visto à luz do dia sob o sol quente.